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Existe ética na reciclagem?

Por Liliam Benzi*

Se ainda não existe, deveria. Segundo o Diagnóstico de Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos do Brasil, o país gera mais de 80 milhões de toneladas de lixo todos os anos e recicla menos de 4%. Os consumidores, que são peça fundamental na equação da reciclagem, deixam a desejar: mais de 70% dos brasileiros não separam o lixo em comum e reciclável (pesquisa Ibope).

Outro ponto relevante da questão é entender que falar sobre reciclagem significa ter um entendimento de como a cadeia funciona no país e em quais condições os trabalhadores atuam. Aí entra outro dado impactante. Um levantamento feito pelo Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) indicou que cerca de 800 mil agentes ambientais, popularmente conhecidos como catadores de lixo reciclável, estão em atividade no Brasil. Desse total, pelo menos 70% são mulheres. E, de modo geral, as condições de trabalho estão muito aquém do desejado e do que poderia ser considerado ético.

Esta constatação leva a um pensamento: até que ponto trabalhar em prol do meio ambiente, balizados por uma estratégia de circularidade, não deveria ser também uma ferramenta de transformação social? E como a gestão dos resíduos sólidos no Brasil pode criar parâmetros éticos para esta atividade hoje ainda tão informal?

Parte da resposta recai no binômio educação-conscientização do consumidor. Uma cadeia ética de reciclagem passa, necessariamente, pela educação ambiental de todos, visando informar e sensibilizar a sociedade sobre as práticas e os resultados de um consumo consciente, com um descarte inteligente. As indústrias já estão arregaçando as mangas e procurando fazer sua parte nesta complexa cadeia da reciclagem.

Mas nada acontecerá sem a participação do poder público. Sabemos que a coleta, triagem e destinação dos resíduos pós-consumo são essenciais para garantir a reciclagem e, sempre que possível, a circularidade dos materiais. A indústria precisa atuar de mãos dadas com o poder público nas esferas pertinentes. Felizmente já temos exemplos de ações pontuais, em alguns municípios brasileiros, que comprovam a eficácia de integrar as etapas de coleta seletiva, reciclagem e logística reserva, e de ter uma indústria tecnologicamente capacitada para receber os materiais descartados pós-consumo e transformá-los em novos materiais.

Este modelo se aplica a materiais celulósicos, metálicos, de vidro, e também ao plástico e, em especial, à embalagem plástica flexível. Qualquer que seja o material, o importante é que as empresas entendam seu papel na criação de uma cadeia de reciclagem ética, que respeite a todos. Catadores, indústrias e poder público precisam estar engajados e alinhados a uma agenda ESG.

A tecnologia entra para respaldar a mágica da transformação de resíduos em novas matérias-primas de valor. Trazer esta percepção de valor para os resíduos coletados, a partir de ações e pensamentos multidisciplinares e em cadeia, garantirá produtos e embalagens mais sustentáveis, condições de trabalho mais dignas para os catadores, além de economia para as empresas (energia, água, matérias-primas, etc). O consumidor ganhará ao receber produtos com um DNA de respeito ao meio ambiente, às pessoas e economicamente otimizado. Apostar na reciclagem é apostar no futuro da sociedade, das indústrias e dos negócios.

 

*Liliam Benzi é especialista em comunicação, marketing e desenvolvimento de negócios e de estratégias para B2B, com ênfase no setor de embalagens. Também atua como editora de publicações e Assessora de Comunicação de diversas empresas e entidades, entre elas a ABIEF. Foi eleita Profissional do Ano pela Revista Embanews. Também é Press & Communication Officer da WPO (World Packaging Organization – Organização Mundial de Embalagem) e está à frente da LDB Comunicação Empresarial desde 1995 (ldbcom@uol.com.br).

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